segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Acordei aos 24

Acordei antes do celular despertar, ansioso pra variar, abri os olhos e a primeira ação foi agradecer em pensamento por mais um ano de vida, por ter a minha família, pelos meus amigos, por ter saúde ou por não ter nada letal diagnosticado até agora. Vinte e quatro anos de vida, o número do viado, envelheci tão rápido e nem percebi, estou cansado de tantas coisas e mesmo assim cheio de expectativas pra esse “novo ciclo”. Tudo isso passando pela minha cabeça enquanto estou deitado na minha cama, que não suporta o meu sobrepeso e que está com a madeira mofada da água da chuva que entrou pela janela semana passada.

Como é o meu aniversário resolvi mofar na cama junto com a madeira, ou seja um atraso bem lindo tá programado, e aí começa a dúvida da roupa para vestir no dia que eu sou o centro das atenções e a conclusão é que estou sem uma peça decente, que essa barriga das cervejas incontáveis já bebidas só serviram pra aliviar a minha sede momentânea. Lembrei de uma tradição do meu aniversário, todo começo de ano faço uma lista de convidados da minha festa bombástica em algum salão bem decorado, todos os bons amigos presentes, os parentes distantes que nunca gostaram de mim e que foram convidados por educação, as amigas da minha avó que adoram um bailinho, bebida liberada, aquele DJ amigo e claro que a banda de swing com aquelas letras loucas de velhas que a minha mãe curtia e hoje quando tocam as tias enlouquecem só no balançar dos ombros, mas claro que isso é formulado em janeiro e no decorrer dos meses a lista vai diminuindo, a bebida fica por adesão e o salão é trocado por algum pub local. Voltei pro dilema da roupa e resolvi investir em uma camisa social roxa e aquela jeans velha batida mas que ainda tá bem escura e bem justa. Ouço dois estalos e depois sou uma mescla de poeira, roupa de cama revirada e a coluna berrando com os destroços da cama mofada e agora quebrada.

Minha septuagenária mãe aparece na porta do meu quarto assustada e cai na gargalhada com a cena, levanto espraguejando e ela continua rindo tanto que acaba virando uma crise de tosse. Parei para me recompor e esperar os devidos cumprimentos, em vão, pois a matriarca deu uma rabanada e foi ao banheiro cumprir seus rituais matutinos de higiene e eu fiquei parado no vácuo, dolorido e furioso esperando um beijo. Mesmo irado com a situação a velhinha sabe como me desarmar, recebo o melhor presente do dia; um abraço apertado, um beijo e palavras de amor baixinhas no ouvido, feito um segredo só meu e dela.

O celular começa a vibrar sem parar, sinal que os amigos começaram a enviar as felicitações e isso serve de remédio para amenizar as dores nas costas, massagear meu ego e fazer com que eu crie vergonha na cara, arrume a bagunça da cama e vá tomar um merecido banho de meia hora. Não posso transformar bucho em filézinho com um banho, barba feita, roupa bem passada e um bom perfume, mas digamos que fica tipo bife de segunda bem batido. Hoje dispenso a bolsa jumbo com três quilos de bugigangas necessárias (agenda, necessaire, roupa da academia, máquina fotográfica, marmita, estojo, etc.) e optei só por celular, carteira e oclão. Beijo na septuagenária, passo a mão nas chaves e saio pra enfrentar mais um dia de trabalho.

2 comentários:

Roberta disse...

Mas tu escreve bem, homem! Tô indo ler de novo pra curtir mais uma vez.

Margot disse...

Muito bom, Well.Imaginei toda a cena como um filme.